Após a triste notícia da morte de Dom Fernando José Fernandes Costa Mascarenhas, XII Marquês de Fronteira, XIII Conde de Assumar, XIII Conde de Alorna, XII Conde de Cuculim, IX Marquês de Alorna, seu primo-sobrinho, Dom António Maria Infante da Câmara Mascarenhas, filho de Dom José Maria Mascarenhas, primo do XII Marquês, tornou-se o novo Chefe da Casa de Fronteira e Alorna, como XIII Marquês de Fronteira, XIV Conde de Assumar, XIV Conde de Alorna, XIII Conde de Cuculim, X Marquês de Alorna.
Dom Fernando Mascarenhas |
Dom Fernando Mascarenhas, presidente da Fundação das Casas de
Fronteira e Alorna, morreu esta quarta-feira em Lisboa, aos 69 anos. A sua
oposição ao regime do Estado Novo e, depois do 25 de Abril, o modo como colocou
o patrimônio familiar ao serviço da cultura e das artes, tornavam o marquês de
Fronteira e conde da Torre, para citar apenas dois dos muitos títulos
nobiliárquicos que representava, uma figura singular nos meios da alta
aristocracia portuguesa.
Em 1989, instituiu a Fundação das Casas de Fronteira e
Alorna, usando o seu palácio seiscentista em Lisboa, mas também a sua vasta
propriedade de Ponte de Sor – que integrou o antigo condado da Torre – para
iniciativas culturais, científicas e educativas.
Culto, sofisticado e com reconhecido sentido de humor,
considerava-se um homem de esquerda, mas sempre levou a sério a sua condição de
herdeiro de uma boa dezena de títulos de nobreza, e fez questão de escrever um
Sermão ao meu Sucessor – Notas para uma Ética da Sobrevivência, destinado – uma
vez que não teve filhos de nenhum dos seus dois casamentos – a António
Mascarenhas, filho do seu primo José Maria Mascarenhas.
Antes do 25 de Abril de 1974 chegou a ser alcunhado de
"marquês vermelho" pela sua oposição ao fascismo, embora ele próprio
diga numa entrevista que nunca foi de um vermelho muito vivo. Mas promoveu
reuniões clandestinas e conspirativas desde o final dos anos 60 no seu palácio
de Benfica.
Uma delas, destinada a preparar a estratégia da oposição
democrática nas eleições de 1969, foi mesmo interrompida pela polícia. Fernando
Mascarenhas, numa entrevista a Cândida Santos Silva publicada no Expresso,
conta que estavam presentes Jorge Sampaio, Vítor Neto, Vítor Wengorovius, Maria
Barroso e António Reis, entre outros.
A sua atividade política nesses últimos anos antes do 25 de
Abril era suficientemente notória para chegar a França, onde o L’Express
brincava com o estatuto aristocrático do opositor e assinalava o nascimento de
uma corrente ideológica, o “marquesismo-leninismo”.
Ir à PIDE de Cadillac
A sua oposição ao regime, que o levou mesmo a ser chamado um
par de vezes à sede da PIDE (polícia política portuguesa) – gostava de contar
que chegou ao edifício da Rua António Maria Cardoso num Cadillac guiado por
motorista –, não o impediu, enquanto grande latifundiário que também era, de
sofrer alguns dissabores após o 25 de Abril. Viveu algum tempo fora do país,
primeiro em Marrocos e depois em Londres, e chegou a pensar que o exílio
poderia ser permanente.
Quando regressou, e como os rendimentos familiares vinham
sobretudo da herdade alentejana, que fora nacionalizada após o 25 de Abril,
viu-se na contingência de ter de trabalhar. Licenciado em Filosofia, deu aulas
durante alguns anos na Universidade de Évora.
Quer as suas inclinações políticas, quer os seus interesses
culturais, dever-se-ão pouco ao pai, um homem que competia em corridas de
automóveis e pegava touros de caras, e que se divorciou da mãe de Fernando
Mascarenhas quando este tinha dois anos. E quando morreu, o filho tinha apenas
onze anos. A figura que verdadeiramente o marcou nesses anos de formação, disse
ao PÚBLICO o historiador e olissipógrafo José Sarmento de Matos, “foi o seu
padrasto, o arquiteto Frederico George, que era uma figura fantástica, de
grande categoria, e um homem muito ligado aos meios da oposição”.
O historiador, que conheceu Fernando Mascarenhas aos quatro
anos e foi seu condiscípulo no colégio, realça a sua “grande cultura” e
“sentido de responsabilidade”, e diz que o amigo “é uma dessas pessoas que vai
mesmo fazer falta”. Sarmento de Matos recomenda que se divulgue a carta/sermão
que dirigiu ao seu sucessor, um texto “muito bonito” e que crê resumir bem o
modo como o marquês de Fronteira achava que devia lidar com o seu estatuto e patrimônio.
“O verdadeiro aristocrata tem consciência de que tem uma
história atrás de si e é essa própria consciência da história que tem atrás de
si que o faz ter uma consciência igualmente clara de que também tem uma
história à sua frente”, escreve Fernando Mascarenhas no seu Sermão, no qual
deixa ainda este conselho ao seu herdeiro: “Sê primeiro um homem e, depois, só
depois, mas logo depois, um aristocrata”.
Jogos e jóias
Em conseqüência do divórcio dos pais, Fernando Mascarenhas
viveu boa parte da sua infância com os seus avós maternos, que tinham casa na
Rua da Emenda, em Lisboa, e só ia ao palácio de Fronteira visitar o pai ou
festejar os seus anos. É após a morte do pai que se muda com a mãe para o
palácio de Benfica. “Não é um amor de juventude: as minhas relações emocionais
são mais com a casa da herdade [de Ponte de Sor] do que com esta casa de
Benfica”, contará ao PÚBLICO em 2011.
É já em adulto que começa a interessar-se verdadeiramente
pelo palácio, acabando por se tornar um especialista na história da casa e
respectivo patrimônio.
Num sintético auto-retrato que traçou apara acompanhar uma
entrevista que lhe foi feita por Paula Moura Pinheiro, Fernando Mascarenhas diz
que é “cristão por educação e agnóstico por ignorância”, que o seu defeito mais
tolerável é “a preguiça” e que o seu passatempo é jogar Civilization, um
célebre jogo de computador criado por Sid Meyer. E enumera algumas preferências
estéticas, como o David, de Miguel Ângelo, na escultura, ou o romance Guerra e
Paz, de Tolstoi, na literatura. Mas também os livros de Mário de Carvalho e, na
poesia portuguesa, Camões, Fernando Pessoa ou Luís Filipe Castro Mendes.
Apreciador do convívio e da conversa, o país pôde conhecê-lo
efemeramente nessa condição de anfitrião de tertúlias culturais através do
programa televisivo Travessa do Cotovelo, que durante algum tempo moderou na
RTP.
Nos últimos anos, vinha-se dedicando à manufatura de jóias,
um hobby que acabou por levar bastante a sério, tendo mesmo chegado a organizar
algumas exposições das suas obras no palácio de Fronteira.
O secretário de Estado da Cultura lamentou já a morte de
Fernando Mascarenhas, realçando a sua contribuição, “antes e depois do 25 de
Abril de 1974, para o fortalecimento da liberdade de expressão e para a
consolidação da cidadania”. Jorge Barreto Xavier sublinha ainda a sua “acção
ímpar em prol das artes, da filosofia e da literatura”.
Segundo informações da Fundação das Casas de Fronteira e
Alorna à Lusa, que não adiantam a causa da morte, o velório de Fernando de
Mascarenhas realiza-se esta quarta-feira no palácio de Fronteira e o seu
funeral terá lugar na quinta-feira à tarde. Após a celebração de uma missa de
corpo presente, o funeral seguirá às 16h30 para o Crematório do Cemitério dos
Olivais.
António Mascarenhas é o sucessor do marquês de Fronteira e o
provável 14ª marquês. Ainda não tem 30 anos e dedica-se à agricultura
Dom António Mascarenhas, XIII Marquês de Fronteira |
Dom António Maria Infante da Câmara Mascarenhas, atualmente por cortesia, 13º conde de
Coculim, vai carregar anos de história. O novo responsável pela Fundação das
Casas de Fronteira e Alorna, o próximo marquês de Fronteira, tem apenas 29 anos
e, apesar de não ser o descendente direto de Fernando José Fernandes Costa
Mascarenhas, que morreu anteontem, foi o escolhido pelo seu antecessor. Ao
mesmo tempo, tem a seu cargo um legado histórico de três casas da antiga
nobreza portuguesa: Fronteira, Alorna e Távora.
Em linha direta, o pai de António, Dom José Maria Pinto
Basto Mascarenhas, seria o sucessor natural, mas em 1994, o marquês de
Fronteira, também conhecido por "marquês vermelho", publicou o
"Sermão ao meu Sucessor - Notas para uma Ética da Sobrevivência",
onde designou como seu sucessor seu primo Dom António. Já nesse livro, Dom Fernando
Mascarenhas apontava um caminho a seguir num futuro próximo: "Sê primeiro
um homem e, depois, só depois, mas logo depois, um aristocrata."
"Fundação bem entregue" António Mascarenhas passa
a maior parte do tempo em Ponte de Sôr. Gere a Herdade da Torre das Vargens,
juntamente com o seu pai, José, mas além desta atividade a sua vida tem sido
discreta.
Para o duque de Bragança, D. Duarte, "a fundação está
bem entregue. O herdeiro do trono garante que "António Mascarenhas está
muito bem preparado para o cargo. No que diz respeito às questões financeiras,
não tenho dúvidas e, relativamente à cultura, terá um gosto e uma formação
diferentes". Dom Duarte Pio gostaria de ver a nova administração da
Fundação das Casas de Fronteira e Alorna "ter uma atenção mais especial
para com os países africanos de língua portuguesa". Alguns conhecidos
descrevem ainda Dom António como alguém bem disposto, simpático, acessível.
Ontem, antes do funeral do XII Marquês da Fronteira, durante
a missa no Palácio Fronteira, junto ao Monsanto, em Lisboa, Dom António
Mascarenhas ainda falou aos amigos e família para lhes dizer que ultimamente
esteve mais próximo do marquês e, por isso, conversou com ele inúmeras vezes.
"Um homem de conversa fácil", concluiu.
800 anos Apesar de haver uma referência no reinado de D.
Sancho I em 1200 sobre um senhorio de Mascarenhas, concedido por este rei, só
entre os séculos XIII e XIV nasceu Lourenço Pires de Távora (o velho), o
primeiro documentado a usar o nome Távora. Mais tarde, as casas de Fronteira e
Alorna juntavam-se a este nome - até hoje o "marquês vermelho" era o
representante das Casas de Fronteira, Alorna e Távora. Os membros da família
usam títulos nobiliárquicos de marqueses e condes da Torre, de Fronteira, de
Coculim, de Assumar, de Alorna.
Fonte oficial da Fundação das Casas de Fronteira e Alorna
referiu que todos os assuntos relativos à instituição terão desenvolvimentos em
breve.
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