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COLUNA DE TERÇA: Heráldica Centro Europeia: Aumento de Honras


Heráldica Centro Europeia: Aumento de Honras

Caríssimos leitores da Coluna de Terça, já há alguns dias temos podido aprender um pouco de heráldica visando a sua diversidade. Devemos ter claro que essa diversidade não é uma aberração, mas antes, tendências da ciência a serem estudadas. Num primeiro momento falamos de como a Heráldica, observando os demais movimentos internacionais, se desenvolveu na Terra de Santa Cruz. Noutro importante momento, começamos a visar e incentivar a pesquisa sobre as demais Escolas Heráldicas tendo por base a escola dos Estados do Sacro Império Romano Germânico. Neste nosso mais novo encontro trataremos de Aumentos (Heráldicos) de Honras. É assim que poderemos, ainda na heráldica da Centro-Europa, visualizar e compreender como o mesmo brasão, ou parte dele, está em vários Brasões conhecidos da Alta Nobreza local.

L’Arma di Concessioni” ou Aumento de Honras é um tipo de mercê onde um Soberano concede o uso heráldico de suas Armas (plenas, em parte ou com diferenças) ou algum emblema que o represente pessoalmente. Como toda concessão ela dependerá muito do meio que ela foi feita, significando que pode ou não ser hereditária. Como todos nós sabemos, nada no período medieval e pós-medieval se adquire sem algum esforço. Então, compreendamos que quem recebeu essa regalia foi porque algum grande feito fez. Creio que o Aumento mais popular, e leia-se popular como conhecido, é o Aumento de França. Quem nunca viu nalguns brasões o dístico francês? 


A Monarquia na Europa Central teve um ar totalmente diferente, diferente de todos os contos de fada, novelas(escritas) e romances que já lemos. No Sacro Império nós tínhamos famílias mais ou menos soberanas, de forma que muito dificilmente se veria um Conde (que poderia ser soberano ou não) como a forma-personagem do Conde de Monte Cristo. Nesta região os Aumentos de Honras foram muito propagados, principalmente pelas famílias estrangeiras. Numa análise muito superficial podemos dizer que o Sacro Império Romano Germânico foi a Monarquia que mais concedeu o Aumento de Honra. Isso é possível ver quando vemos as Armas Imperiais (campo de ouro carregado duma águia estendida de sable, coroada do campo) esquartelado com armas pessoais de integrantes da Alta Nobreza.



                A disposição heráldica para os Aumentos de Honra, quando a adição é feita no escudo, é na parte mais honrosa do mesmo. Podemos ver mais comumente o aumento em Chefe, também em esquartelados usando sempre o I e o IV quartéis respectivamente ou ainda como escudete no coração do escudo. Ao mesmo tempo que nós, usualmente, vemos a disposição dos aumentos dessa forma, como vimos, a concessão é que determinará como eles serão dispostos. Vejamos, por exemplo, o caso de Dom Diogo Fernandes, o Sua Majestade Cesárea Maximiliano I concedeu dois aumentos dispostos no I e II quartel.


           Neste escudo podemos ver que no I campo temos as armas do Império, cuja diferença da concessão foi uma (lua) crescente de prata acrescida ao peito da águia. No II campo, que não parece, mas também é um aumento de honras, temos as ‘armas de guerra’ do Sacro Imperador. É importante que não determinemos como fixa essa posição de onde irá o Aumento de Honras. Para além desse entendimento que nós temos, a Concessão, o costume, o uso e as alterações históricas não deixam que essa realidade seja fixa. S.A.S Don Andre III Trivulzio-Galli certa vez me disse: “A heráldica sem história é uma ciência estéril” e, de fato, é.


        Para exemplificar a realidade não-fixa dos aumentos, o Aumento (de Honras) de França concedido à família Medici foi originalmente posto em abismo (coração do escudo). Nas em tempos de Lorenzo de' Medici, o Magnífico, essa honraria deixou o coração do escudo e foi para o chefe. Não é que, com essa informação, eu afirme que seja possível fazer alterações nos brasões. Longe disso, porém, como disse: o costume influencia. A Família Medici não foi a primeira e nem a última a tomar uma atitude assim. Curiosamente, também, a Família Visconti dos Senhores e, depois, Duques de Milão receberam um Aumento de França que fora substituído pelo Aumento do Sacro Império. Ou seja, só aqui temos duas variações, uma mudança no padrão heráldico e costumes. O brasão oficial ficou com o Aumento do Império, mas o fato de tê-lo não exclui o aumento concedido pelo Rei de França.

                Agora que vimos um pouco do que é esta mercê do Aumento de Honras, vamos vê-lo d’outras formas. Recordemos que para além das armas pessoais do Soberano que podem ser incluídas no escudo, o Aumento de Honra pode ser de um elemento pessoal ou dístico que recorde o Soberano que o concedeu. Há um caso atual onde o Soberano de Mesolcina concedeu ao Conde de Colle d’Agnese alguns Aumento de Honras. Tais aumentos são hereditário, portanto serão heranças herdadas por seus filhos e pelos filhos de seus filhos. Quando se pensa numa concessão d’armas se tem um contexto. O Conde de Colle d’Agnese tem por ascendência as famílias Fernandes, Pereira, Souza, Silva e Ferreira. Fazendo uma ligação com o texto anterior, o brasão do supracitado Conde carrega 3 elmos. Por via de regra, ambos os elmos têm que ser timbrados. Nos elmos que estão virados para o abismo, ou seja, para o centro do escudo há uma situação curiosa.  Vejamos na imagem a seguir:



         O elmo da esquerda que, ao vermos de frente, é o da direita, carrega um leão púrpura como timbre. Mas, vejamos atentamente o que está na pata destra do leão: a Rosa de Mesolcina. Uma rosa de Ouro com folhagem e o botão de verde. Esse foi um aumento de honras concedido pela devoção à Casa Principesca de Trivulzio-Galli. Quando Gian Giacomo II, il Magno, estava para tomar Mesolcina ele teve uma visão celeste, o Arcanjo Miguel apareceu-lhe e onde o Arcanjo apareceu brotaram rosas de ouro. Então, o timbre da família Silva, o leão púrpuro, carrega em sua pata a Rosa de Mesolcina. Curiosamente e não menos importante, o outro timbre é exatamente um São Miguel. Este timbre foi escolhido como honra à Suprema e Insigne Ordem de Sua Alteza o Príncipe e de São Miguel Arcanjo, suprema Ordem da Casa Principesca de Trivulzio-Galli de Mesolcina. Esse São Miguel, que representa a Ordem, carrega em seu escudo as armas de Trivulzio e Boni dal Leone Rampante tendo por sobre elas o escudete com a monograma do Soberano que concedeu a Ordem de São Miguel e o Título Condal. Interessante que o mesmo aumento se repete na bandeira d’arma que o suporte do brasão do referido Conde carrega. 
 

- Aumento de Honras em Estandarte - 

       Os Aumentos de Honra podem apresentar-se nos mínimos detalhes de um brasão. Vale lembrar que a heráldica é um patrimônio, portanto, ela não se perde. Muitos outros brasões receberam aumentos, esses que podem ou não estar na lista do que sabemos hoje. Noutra oportunidade destacaremos que o Aumento de Honras não era somente uma ‘peça heráldica’, mas uma posição política assumida diante dos Soberanos Próximos. Posição essa que, de alguma, culminou na guerra dos dois Chefes(heráldicos) que, historicamente, tem outro nome. Fica aqui a dica para a pesquisa dessa semana



Paulo R S Fernandes
Conde de Colle d’Agnese, Barão de Plattera.
(para falar com o colunista, escrever para condepaulo@m-mundo.com) 


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