O Sacro Império Romano Germânico
não foi, somente, exemplar em sua história, mas em sua heráldica também. A união
desses Países da Europa-Central (Itália, Alemanha, Áustria, Suíça e etc) mostrou
ao mundo seu jeito de eternizar à forma de fazer brasões.
Há alguns anos, S.A.S o Fürst
Andrea III Trivulzio-Galli postulava sobre as Escolas Heráldicas. É sabido que a
arte de blasonar é universal, abrange a todos os espaços em sua forma e gênero,
mas é claro para os estudantes desta ciência que ela se desenvolve de forma
natural e única em cada local onde ela foi introduzida. Para começarmos essa
particularidade universal trataremos de alguns detalhes dessa vastíssima
tradição que o S.R.I¹ nos deixou.
Uma coisa precisamos ter claro:
numa composição parassematógrafa o escudo é peça importantíssima. Poderíamos,
de alguma forma, dizer que as armas são, em si, o escudo. Desta forma, algumas
peças são – no geral – não tão necessárias. É impactante ver como alguns
escudos de famílias dessa região centro-europeia, por exemplo, tem escudos
pleníssimos de várias partições ao mesmo tempo que algumas outras famílias tem
armas simples. Faço aqui uma pequena amostra de dois escudos conhecidos:
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Brasão de Armas da Casa Principesca de Mesolcina |
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Brasão de Armas da Casa de Hohenzollern |
Veja
como é curioso, ao colocar o escudo já identificamos a qual dinastia eles pertencem.
Além da memória fotográfica, que é mais natural, pelo costume de uso sabemos a
quem são seus donos. Analisando os escudos como são, eles em nada diferem de
demais brasões que podemos ver por aí. Colocarei os mesmos escudos com uma particularidade
interessante da heráldica germânica. As duas Casas fazem parte da tradição do
Sacro Império, mas no visual e na mesma escola subsistem suas minúcias.
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Elmo "normal" |
Aqui
vemos a diferença dos elmos, essa é uma das várias possíveis. Creio que, além
do múltiplo particionado do escudo, a quantia de elmos seja um outro
diferencial da heráldica Imperial. Seus metais, suas posições, a quantidade. Nesta
escola não é possível um elmo sem seu respectivo timbre. Pode não haver outras
peças heráldicas, mas se há elmo consequentemente há seu timbre. As coroas² e
coronéis³ podem vir diretamente por sobre o elmo, como é na heráldica ibérica,
ou pode não vir diretamente sobre o elmo. O elmo pode não ser coroado. Há um
coronel chamado helmkrone, poderíamos traduzir diretamente por coroa do elmo,
essa não há uma especificidade de título Nobiliárquico. Ela representa a
nobreza. É natural que haja nos brasões do S.R.I dois coronéis. Um por sobre o
escudo e outro por sobre o elmo.
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Elmo de ouro, para Príncipes |
A
coroa por sobre o escudo dá a titularidade ao portador e a do elmo é a que
denominamos helmkrone. Diferente de outras escolas heráldicas não se duplicaria
a coroa, me explico: não colocaríamos uma coroa condal sobre o escudo e a mesma
sobre os elmos. Há escolas onde isso acontece, mas não é o nosso caso.
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Elmo com a Helmlrone |
A
Imperadora Maria Theresia tentou implantar em seu reinado algumas mudanças na
norma de uso dos elmos. Nela, a Imperadora dispunha quantia, posições, metais.
Ela foi categórica: elmos de ouro somente para Reis e Soberanos. As demais categorias
da Nobreza se dividiam entre prata e prata com adornos em ouro. A regulamentação
não foi bem compreendida haja vista que antes dela, por exemplo, Casas Condais
já atendiam o uso de 7 elmos. Pela nova regulamentação os Condes poderiam
apenas levar 4 elmos.
Aqui, vemos também uma outra
diferença, por exemplo, da heráldica ibérica. Nela temos um único elmo, esse
elmo reflete a nobreza do armigerando. Se de prata, prata com ornamento em
ouro. Com grandes, sem grade, perfilado ou em majestade. Na heráldica Imperial, para além da posição, quantia
e material do que era fabricado, os elmos têm uma fundamentação mais profunda.
Ligações feudais, por exemplo.
A
Casa Principesca de Trivulzio-Galli della Mesolcina é um perfeito exemplo, nos
tempos atuais, de seguimento dessa escola heráldica. Das muitas Casas Soberanas
do Sacro Império que existem ainda hoje, nossa Casa Principesca é uma das
impulsionadoras dessa cultura. Algumas Casas já adaptaram mais uma vez a sua heráldica
e nós a cultivamos a mesma heráldica em tempos atuais. Há uma criteriosa avaliação
para concessão dos brasões dos Nobres que pertencem à Casa Principesca, assim
como há uma profunda reflexão sobre o reconhecimento dos brasões de Nobres que solicitam
o reconhecimento do título e confirmação das armas.
A
Casa de Mesolcina teve um momento ímpar em sua própria história, um de seus Príncipes
foi designado como Principal Rei-de-Armas da Casa, o Conde della Loggia, hoje
conhecido por ser o Chefe da Dinastia. Neste tempo em que S.A.S Andre III foi
Rei-de-Armas, ele organizou o Tribunal, revisou os Ordenamentos Heráldicos cabíveis
aos Membros da Soberana Casa Principesca de Trivulzio-Galli della Mesolcina,
organizou o sistema heráldico, melhorou a estrutura heráldica de Suas Ordens de
Cavalaria. Para além disso, Sua Alteza Sereníssima lecionou heráldica para muitas
pessoas.
A
heráldica é um assunto vastíssimo e difícil de ser esgotado em linhas, para uma
análise mais profunda é necessário, realmente, se debruçar nos estudos. Com
essa introdução, desejo a todas boas pesquisas.
Paulo
R S Fernandes
Conde
de Colle d’Agnese, Barão de Plattera.
(para falar com o colunista, escrever para condepaulo@m-mundo.com)
¹ - S.R.I - Sacro Império Romano-Germânico, ou Sacro Romano Império, na sigla em italiano.
² - Coroas - Coroas
correspondentes aos títulos Régios e da Alta Nobreza.
³ - Coronel - Coroas dos títulos
da Baixa Nobreza.
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