Hoje iniciamos uma nova Coluna na Revista Mundo da Nobreza, a COLUNA DE TERÇA.
A COLUNA DE TERÇA será de responsabilidade do Conde Paulo Roberto de Sousa Fernandes, que é Rei-de-Armas da Casa Principesca de Mesolcina. Como especialista em heráldica, será tema dessa primeira Coluna justamente a heráldica brasileira.
Naturalmente tudo que
acontece é ambientado, com o Brasil não seria diferente. Historicamente o
Brasil viria a ser independente em 7 setembro de 1822, as demais instruções
normativas da nação, em tudo, era uma cópia completa, inclusive a heráldica,
nosso tema principal.
Como colônia a Terra de Santa Cruz não tinha ares de
nobreza, os fidalgos que aqui vinham em tudo dependiam da Capital do Reino que
estava além-mar. Com a elevação do Brasil a Reino unido ao Reino de Portugal e
Algarve a responsabilidade do Rei-de-Armas de Portugal aumentou
consideravelmente. Com a mudança da Família Real Portuguesa para o recém-criado
Reino do Brasil, devido as Invasões Napoleônicas, Portugal influenciaria mais proximamente
sua, anterior, colônia. Fazendo do luso-brasileiro um ser de gostos múltiplos,
desde a política, instituições militares, Nobreza e a heráldica um painel de
muitas caras-e-cores.
Essa primária ‘invasão cultural’ deu uma identidade bem
lusa as atividades desenvolvidas aqui, com a presença da Família Real tivemos
que nos adaptar à realidade de corte. Gerenciar serviços da Casa de Sua
Majestade e, portando, do Estado Português. Sim, a heráldica era para além de
um agrado de Sua Majestade Fidelíssima, um Serviço de Estado.
Depois dessa pequena introdução – muito geral – à
realidade histórica que nos passava, para compreendermos a heráldica e o jeito brasiliano
de fazê-la, precisamos ter em nossas cabeças alguns aspectos da generalidade
heráldica. Faremos algumas poucas distinções agora para que compreendamos as
diversas faces da heráldica. S.A.S Don Andre Fürst von Trivulzio-Galli já
postulava, anos atrás, sobre as Escolas Heráldicas. A heráldica é universal,
porém, ela se amoldou ao modus vivendi
das pessoas onde ela se instaurava. A história não tratou bem de identificar a
heráldica em seu correr, e é por isso que nem sempre temos compreensão do que é
essa matéria.
Para
ilustrar o que dizemos vejamos alguns exemplos das realidades heráldicas
distribuídas no mundo ao longo da história: a Escola Heráldica da
Centro-Europa, também chamada de Escola Heráldica dos Estados do Sacro Império
Romano-Germânico e a Escola Ibérica, incluímos aqui as heráldicas Espanholas e
Portuguesa.
Cada Estado Soberano, ao
longo do tempo, foi mantendo suas especificidades. No Sacro Império e seus Estados
Anexos, cultivaram sua própria escola, com particulares regras, como por
exemplo o número múltiplo de elmos. O mesmo ocorreu com os Reinos Peninsulares,
com o uso dos esquartelados. Há notícias que as Espanhas, em tempos de Castela
e Leão, foi um pioneiro no uso de armas esquarteladas (uso de mais de uma
partição no escudo). Cada um manteve e tentou propagar sua própria cultura e
heráldica.
É importante salientar o quão bem
fez à Heráldica essas peculiaridades das partes. O enriquecimento de
informações, de história, de caminhos trilhados. O que é a heráldica senão
história? Desde o período Joanino até o fim do Segundo Reinado a heráldica em nossas
terras tomou para si um pouco de tudo o que parte da Europa experimentou. Do
período Joanino até Dom Pedro I vivemos o costume ibérico, uma presença forte
da heráldica hispânica e lusitana. Já com Dom Pedro II pudemos ver as nuances
da heráldica mais à francesa. Neste interim, também experimentamos um pouco de
uma característica da Escola Heráldica do Sacro Império-Romano-Germânico.
Particularidades essas que já adianto: nas armas completas, o uso da coroa
sobre o escudo e sobre o elmo. Tradicionalmente nós vemos, seja na heráldica
ibérica ou francesa, o ‘coronel titular’¹ por sobre o elmo diretamente.
Temos notícias que o Brasil teve
dois Rei-de-Armas. O primeiro fora Possidônio Carneiro da Fonseca Costa(1815-1854),
nascido no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. Este foi o brasileiro que no
fim se sua vida deu cabo de todo o arquivo heráldico e de fidalguia do Cartório
de Nobreza e Fidalguia do Brasil. Como brasileiro nato, viveu a heráldica da
forma mais lusa e plena possível. Como informamos anteriormente, nosso País se
abre as demais culturas. Com o falecimento de Possidônio, o Brasil recebe um
novo Rei-de-Armas, esse Francês, chamado Luís Aleixo Boulanguer (1798-1874). A
partir daí o Império toma novos ares heráldicos, experimenta tendências novas o
que faz do Brasil um país heráldico-cultural indefinido. De Luís temos – como esforço
pessoal – o trabalho de tentar reconstruir aquilo que Possidônio dera fim: o
Arquivo do Cartório de Nobreza e Fidalguia.
A expressão das tradições, das
peculiaridades, do espaço-e-tempo é registrada na heráldica. Por mais particular
que seja, ela nunca deixará a universalidade. Suas raízes são, indubitavelmente,
mergulhadas e entremeadas de curiosidades. A disposição, nossa, de ver essa
história é o que realmente importa. Muitos outros aspectos poder-se-iam ser
explorados. Caro leitor, meu intuito não foi mostrar as diminutas diferenças,
mas, tentar – de uma forma rápida – caminhar pela história heráldica de nossa
Terra.
Paulo
R S Fernandes
Conde
de Colle d’Agnese, Barão de Plattera.
(para falar com o colunista, escrever para condepaulo@m-mundo.com)
¹
- Coroa heráldica que demonstra o título do possuidor do brasão.
Boa introdução. Aguardo os próximos textos. A meu ver faltou legendas nas imagens, indicando a origem das imagens e aspectos delas que devem ser observados.
ResponderExcluirOlá Dalton. As imagens nessa publicação não compõe o corpo do texto, são apenas ilustrativas, para o leitor ter ideia do que é um brasão de armas.
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